segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"O Nascimento do Salvador" | Casa do Povo da Longra, 11 de Janeiro de 2008

Foi um bonito espectáculo cénico-musical o levado a efeito na tarde do passado domingo na Casa do Povo da Longra, em Rande, Felgueiras, "O Nascimento do Salvador", pelo Grupo de Teatro MacPiremo, das paróquias de Macieira da Lixa, Pinheiro, Moure e Refontoura, do P.e André Ferreira, co-autor da peça com Luís Carlos Silva e da qual é o encenador. A Casa esteve quase cheia, apesar do frio que se fazia sentir naquela tarde.
A peça relata, com base em textos bíblicos, o acontecimento maior do mundo cristão, que é o nascimento de Jesus Cristo, mas, muito inteligentemente, os seus autores introduziram "ingredientes" muito contemporâneos: a crise financeira mundial proveniente dos EUA, o desemprego, a criminalidade, a situação política na Rússia, a situação de guerra na Palestina, etc.… Ao mesmo tempo, no espectáculo é condenado o consumismo exacerbado da sociedade ocidental, nomeadamente quando, ironicamente, um dos três Reis Magos diz ao Salvador: "Menino Jesus, vimos trazer-te telemóveis!".
No final, a assistência aplaudiu efusivamente, de pé, as dezenas de figurantes em palco.
Ao presenciarmos esta peça, ocorreu-nos o seguinte poema de Miguel Torga, que é um apelo a uma espécie de "peregrinação interior" de cada um de nós, de que falava, também, António Alçada Baptista, escritor e um dos fundadores, nos anos 60, da corrente estética "O Tempo e o Modo":


É contra mim que luto
Não tenho outro inimigo.
O que penso
O que sinto
O que digo
E o que faço
É que pede castigo
E desespera a lança no meu braço.
Absurda aliança
De criança
E de adulto.
O que sou é um insulto
Ao que não sou
E combato esse vulto
Que à traição me invadiu e me ocupou.

Infeliz com loucura e sem loucura,
Peço à vida outra vida, outra aventura,
Outro incerto destino.
Não me dou por vencido
Nem convencido
E agrido em mim o homem e o menino.

Poema "Guerra Civil", de Miguel Torga